4 de mar. de 2011

Nijinski


Nijinski - Casamento com Deus 










O espetáculo aborda questões que estão vinculadas à genialidade, à arte e à espiritualidade. Mais nos ocupa o que Nijinski “significa” enquanto alma ou personalidade singular do que o que ele representa enquanto figura para o mundo do espetáculo, “O Deus da dança”, a “estrela des Ballets Russes”.

Sua personalidade tinha a força estrondosa de um buraco negro, cuja potência pode irradiar-se com ousadia e intrepidez, atraindo pra si magneticamente a admiração atônita de todos, ou absorver com igual intensidade as questões mais caóticas e desafiadoras que o mundo a sua volta propôs ao seu tempo. Questões essas que ainda hoje se colocam perante o mundo, ainda hoje sem resposta, e que o devoraram, levando-o ao ponto da auto-implosão. Esta potência paradoxal é o ponto de partida para a pesquisa iniciada em 2008 e que sustenta a atualidade deste projeto.

A estrutura central da pesquisa foram os textos dos "Cadernos" que ele escreveu sob orientação psiquiátrica e que foram publicados segundo seus intuitos messiânicos, os livros “Nijinski”, de sua esposa Romula Nijinski, e “O Outsider”, de Collin Wilson; também a produção plástica do próprio Nijinksi, como também de outros artistas que o retrataram.As mudanças que Nijinski como artista desencadeou no desenvolvimento da dança, seu caráter performático frente à dança clássica, utilizando-se inclusive do improviso em cena, deflagrando uma concepção nova do espaço, inauguraram a modernidade na dança. Com esta mesma potencialidade visionária é que ele apresenta uma concepção metafísica do homem em seus escritos e na cena. Assim, além de uma figura capital dentro da história da dança, de um bailarino insuperável e de um coreógrafo incompreendido, tratamos também de um homem genial, que anteviu as conseqüências desastrosas do processo de industrialização que vivenciamos em nosso tempo, e que trouxeram claros reflexos para o corpo e para o movimento, não apenas dentro do universo da dança ou da arte, mas da própria vida.O foco está em sua vivência interna, na etapa introspectiva de sua vida, em que abandona a arte para afastar-se do mundo, retirando-se em Saint-Moritz para aproximar-se de Deus.

O corpo, a dança e a gestualidade, a inter-relação destes com o espaço cênico e sua topografia, são alguns dos elementos escolhidos para estabelecer um prolongamento possível das idéias de Nijinski, imagens cênicas das suas concepções de morte, medo, loucura, amor, da própria humanidade e de Deus. Retratar a sua mente - que Nijinski dizia tirar-lhe o foco do sentir, afastando-o da vida, do amor e da espiritualidade - é o que, paradoxalmente, nos permite, através das palavras e pensamentos que deixou, percorrer o caminho inverso e nos aproximar do seu ser.

Mais no blog :

http://nijinskicasamentocomdeus.blogspot.com/

3 de mar. de 2011

Olho




A proposta inicial deste trabalho de pesquisa é estudar a relação do corpo com sua própria imagem através de vídeo instalações, aproximando a dança das artes visuais. O desdobramento seguinte é a multiplicação das imagens criadas nas instalações por outras mídias e autores.


A concepção original deste projeto surgiu do interesse em pesquisar as diferentes concepções de corpo encontradas na história da arte, e também em rever o início do desenvolvimento da linguagem audiovisual, especificamente a transição entre a fotografia e o cinema, além de investigar os jogos ilusionistas conseguidos com reflexos, sombras e espelhos que compunham os efeitos especiais do teatro neste período. As pesquisas de visionários do século XIX, como Daguerre, Marey e Muybridge, marcadas pelo desenvolvimento tecnológico, explicitando a visão de mundo que formavam essas primeiras imagens, inauguraram uma nova visualidade que liberou a arte para outros modos de representação do real. As instalações colocam o corpo neste contexto, em que a imagem se forma num cruzamento entre o científico e o imaginário. Nosso tema se configura então como um jogo entre a visão e a aparência do corpo, o que nos leva às idéias de auto-imagem, propriocepção e fetichismo.


A estrutura inicial do projeto é um conjunto de video-instalações imersivas concebidas especialmente para dança. A presença física de um corpo é imprescindível para o funcionamento das instalações, criando circuitos fechados que interferem poeticamente na arquitetura. A criação de visualidades híbridas e efêmeras, visíveis apenas pelo jogo de espelhamento entre máquina e corpo, visa relativizar a individualidade e enfatizar os aspectos relacionais do corpo. O objetivo principal é estabelecer um campo expressivo entre o corpo, a tecnologia e o espaço, meios entre os quaisa visualidade se forma.


As instalações serão ocupadas em apresentações de dança que serão tomadas como ponto de partida para que desenhistas, fotógrafos e video-makers produzam trabalhos pessoais, estendendo o instante fugidiu da dança a outros suportes. Estes trabalhos irão compor uma exposicão que acompanhará as apresentações como um cenário em work in progress, num procedimento acumulativo em que diversos pontos de vista e modos de representação se sobrepõe ao acontecimento da dança.


Executar o OLHO no espaço expositivo da Galeria Olido confere ao projeto um caráter de site-specific, uma vez que relaciona as duas atividades artisticas as quais o prédio da sede da Secretaria Municipal de Cultura se dedica: o corpo, em relação à dança e a visão, em relação às artes visuais


Este projeto ocupou a sobre-loja do espaço expositivo da Galeria Olido de 10 a 14 de novembro. Permancencendo aberto a visistação do público, como uma exposição de artes visuais a partir das 10hs. Entre as 13hs e 16hs, performers convidados realizaram intervenções pontuais, e as video-instalações foram disponibilizadas para interação do público. As apresentações de dança ocorreram neste mesmo espaço as 19hs.


Uma segunda temporada foi realizada entre os dias 22 de março e 27 de abril, as terças e quartas no 4º subsolo do Sesc Pinheiros no projeto para sites specifics Fora do Palco, sendo adequado às especificiades expressivas da arquitetura em questão.


Uma adaptação para TV foi ao ar diariamente no programa Dança Contemporanea da TV Sesc entre os dias 17 e 22 de agosto.


O processo de pesquisa esta disponivel on line no blog:

http://processocriativoolho.blogspot.com


E os trabalhos desenvolvidos pelos artistas plásticos convidados esta disponivel no blog:

http://desdobramentosolho.blogspot.com




















Fotos: LabDivino, Patricia Alegre, Gislaine Costa

Ficha Técnica


Concepcão e direção geral: Marcio Marques

Produção: Gisele Pennella

Produção executiva: Daniel Barra

Preparação corporal e coreografia: Anderson Gouvêa

Intérpretes criadores: Anderson Gouvêa, Beatriz Tomaz, Estefano Romani, Leonardo D’Aquino, Marcio Marques

Trilha sonora original: Beatriz Tomaz e Pipo Pegoraro

Participação em piano: Rodrigo Reis Rodrigues

Iluminação: Simone Donatelli

VJ: Ninguem

Assistente de video e de coreografia: Patricia Alegre

Figurino: Marina Reis

Cenotécnico e assistente de producão: Marcus Filomenus

Design gráfico: Fernando Sciarra

Foto still: Patricia Alegre

Consultoria de pesquisa: Rodrigo Reis Rodrigues e Jorge Albuquerque